A família e seus superpoderes

setembro 04, 2013

Ilustração de familia à mesa e pessoa presa por bola de ferro
                                                                                                            Sibélia Zanon

Helena não apareceu no aniversário de 40 anos da prima. Elas já não se falavam muito ultimamente e Helena praticamente não mais convivia com seus familiares paternos. Encontraria tios que não a reconheceriam, primas e primos com seus respectivos cônjuges e amigos dos amigos dos amigos. Seria mais um evento social, sabia que se sentiria deslocada. Decidiu não ir. Mas, desde então, sentiu uma mudança no relacionamento que ainda nutria com alguns membros da família. Passou a receber olhares reprovadores. Ela não desempenhara a contento o papel de prima exemplar e, portanto, foi reprovada no quesito sociabilidade e condenada por “desfeita familiar”.

Família, cada um tem a sua. E amores, cada um tem os seus. O problema é que nem sempre todos os membros das famílias são uns amores e o amor não se deixa domesticar por convenções sociais. Assim nascem os conflitos familiares de Helenas, Fábios, Anas e de todos nós.

Muitos defendem as próprias famílias com unhas e dentes, assim como o conceito de família. A família ainda é vista como um grupo de elevado valor na sociedade. Grupo que proporciona apoio, fortalece e beneficia, protege e transforma seus membros em verdadeiros cidadãos, capacitando-os para a luta de cada dia. Mas... será mesmo?

Num mundo ideal deveria realmente ser assim, mas, na maioria dos casos, a família de hoje confunde papéis, exercendo poderes diferentes daqueles propagados por seus defensores.

Muitas vezes a família, em vez de amparar, acaba por sepultar. Sepultar desejos, vocações e, acima de tudo, liberdades de seus membros.

“Cada um se intromete no caminho do outro, querendo muitas vezes até determinar, e assim amarra fios indestrutíveis e ligadores, que os agrilhoam uns aos outros, oprimindo-os”, afirma o escritor Abdruschin, em Na Luz da Verdade, referindo-se à perda de individualidade que alguns sofrem diante de suas famílias.

Isso acontece por muitos motivos. Muitas vezes porque não é amor o que une as pessoas de uma família. Amor verdadeiro, acima de tudo, respeita o caminho do outro, as individualidades, os anseios e as diferenças, e não quer comprimir tudo e todos numa receita única de viver. Mas aprender a amar pode demorar uma vida, e enquanto a lição não é ensinada e aprendida, vive-se como presidiário das pequenas e grandes obrigações inventadas.

No final do ano, às vésperas do Natal, a angústia aumenta. Também no Dia dos Pais, no Dia das Mães, no Dia dos Avós (que está ganhando notoriedade) ou no Dia dos Primos de Terceiro Grau (ainda inédito).

Como não amar a família da forma esperada? Como não ser feliz entre os familiares no Natal? Como harmonizar os seus desejos de vida, sem ferir as expectativas que os familiares nutrem sobre o seu futuro? Quantas pessoas já não perderam noites de sono, buscando solucionar essas equações complicadas?

Quando a individualidade e a força de escolha de cada um não são respeitadas há conflitos, e a angústia é a prova de que algo não vai bem. Algo também não vai bem quando a coesão familiar está ancorada na tradição, na educação e na conservação de vantagens e de comodidades, em vez de ser consequência de laços afetivos espontâneos.

Se, por um lado, muitas famílias querem delinear o destino de seus membros e são capazes de realizar verdadeiras assembleias decisórias sobre a vida de alguém que nem ao menos está presente, há famílias que usam óculos cor-de-rosa quando se trata de dimensionar os erros de qualquer um de seus integrantes. A historiadora Mary del Priore define nós, brasileiros, como: “severos com os transgressores que não conhecemos, porém indulgentes com os nossos, os da família”. Essa característica não é formadora de cidadania, na medida em que não colabora com o aprendizado da responsabilidade individual que cada um carrega por seus atos.

Mas nem tudo está perdido. Há muitas obrigações familiares inventadas e determinações que anulam a individualidade, porém também há exceções quando, além do parentesco, existe o respeito e a amizade entre os indivíduos de uma mesma família. Quando isso acontece, há verdadeiras oportunidades de crescimento, que são características fundamentais de todo amor. Isso porque o amor é o melhor antídoto para tudo o que é ruim, feio e baixo.

Conforme cada um fortalece suas convicções sobre os deveres e direitos que regem as relações familiares, quem sabe as grades passem gradativamente a dar lugar às asas. Helena ficaria especialmente feliz.


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