O escritor francês Albert Camus diz sobre a vida:“O objetivo da arte, o objetivo da vida, só pode ser o de aumentar a quantidade de liberdade e responsabilidade em cada pessoa e no mundo”.
Vez por outra a vida traz acontecimentos pessoais e individuais que abalam estruturas e resgatam questões, trazendo-as à superfície da consciência. Outras vezes, são acontecimentos universais que fazem com que questionamentos sobre a vida e seu objetivo venham à tona. Quem conduziria essa estrada cheia de sutileza e mistério chamada vida?
Envolto em expectativa e, às vezes, misticismo, o destino parece conter para alguns o segredo, o intocável e a chave do amanhã. Trilhando outras estradas de questionamento: seria o destino antítese ou irmão do acaso? Liberdade, livre-arbítrio e destino seriam compatíveis?
São muitos os aspectos que embaralham e tecem, formando a rede da vida e do destino. O filósofo alemão Schopenhauer diria:“O destino embaralha as cartas, e nós jogamos”. Mas até onde o destino tem poder e até onde nós é que somos agentes?
“A possibilidade ou o poder de fazer alguma coisa em relação à situação iminente não confere à pessoa alguma responsabilidade para fazê-la? Eu escolho a resposta sim. A responsabilidade não está mais vinculada apenas às causas passadas - isto é, ao que a pessoa fez. Deve funcionar também com a liberdade presente - isto é, o que eu posso fazer. A liberdade de agir me confere a responsabilidade de agir”, sugere o psicólogo e psicanalista americano Rollo May em Liberdade e Destino.
Por mais paradoxal que isso pareça, o destino está ligado à reponsabilidade e à liberdade, ainda que alguns, em nome do próprio destino, se eximam de responsabilidades pessoais e sociais. O destino está ligado à responsabilidade, porque ele não deixa de ser uma onda que traz do mar aquilo que nós mesmos jogamos nele. Seria muito complicado, incoerente e, quem sabe, cômodo explicar a vida com a palavra acaso. Escritor e filósofo francês, Voltaire afirmou que o acaso não existe. Mais enfático, o também filósofo alemão Lessing chamou a palavra acaso de blasfêmia.
E por que o destino estaria ligado também à liberdade? Se o destino é onda que traz do mar o que nele jogamos, é preciso assumir que cada um lança no mar aquilo que bem entende. Se por um lado o homem está destinado a ser livre, para conquistar sua liberdade, será preciso saber encarar e aceitar o destino. E ele não deixa de ser regido por nossas escolhas, sendo também permeado por leis universais. Nossas escolhas são feitas e leis universais que regem a natureza e o mundo trazem de volta os frutos dessas escolhas... é o destino forjado por nossas próprias ações.
O destino talvez seja mesmo a antítese do acaso. A vida é antítese do acaso, tudo faz sentido, tudo é tecido, tudo é traçado, tudo é moldado com nossas mãos. O destino é um nome vago para a vida em suas inúmeras facetas incrivelmente bem construídas e sem lacunas.
Permanece um mistério? Talvez o mistério fique menor ao observar a ação e reação agindo o tempo todo na natureza. Mas a magia do destino continua, porque ele não deixa de carregar as tantas faces da riqueza da vida e suas generosas possibilidades de mudança e crescimento.
Texto originalmente publicado no periódico Literatura do Graal, número 13.