“Um pequeno grupo deles, chegados intimamente entre si, de modo especial, havia saído para as montanhas a fim de ali, então, falar de Jesus. Queriam guardar de suas palavras o que lhes ficara gravado na memória.
Dois a dois caminhavam: João e Jakobus, Pedro e André, Felipe e Tomé, Mateus e Natanael, Barnabé, que antigamente estivera junto de João Batista, o grego Demétrio e o escriba Nicodemos. No caminho encontraram Lázaro e convidaram-no a acompanhá-los.
Num lugar ensolarado fizeram uma pausa para descanso, sentindo dolorosamente a falta de seu Senhor. Durante algum tempo todos permaneceram calados. Depois Pedro tomou a palavra:
— Não está certo nos reunirmos em grupos, a gosto de cada um. No tempo de Jesus nunca foi assim, e agora também não deveria ser.
Sentiram que ele estava com a razão, mas não queriam admitir. Pois assim teria que acabar essa condição de se reunirem só os de índole igual. Em Natanael, porém, manifestava-se o anseio pela Verdade, que caracterizava todo o seu ser.
— Pedro tem razão, ó irmãos. É verdade que Jesus reuniu em volta de si doze de nós, como o círculo mais chegado, e isso ele fez por sabedoria divina. Nós, porém, estamos dissolvendo esse estreito círculo dos doze, e, misturando-nos, formamos novos círculos com aqueles que sentimos maior afinidade. Isso não deveríamos fazer.
— Por que não? quis Mateus saber. Quando estamos juntos com os que nos compreendem, podemos realizar algo melhor.
Aí, João tomou a palavra. Tornara-se muito calado desde a morte de Jesus e apenas falava quando tinha a dizer algo de importante.
— Por que Lebeu não está entre nós? perguntou serenamente.
Os outros olhavam para ele com certo ar divertido.
— Lebeu? Ele não nos compreenderia e além do mais falaria, intrometendo-se. Estou contente por ele não ter querido vir junto, fez-se ouvir Jakobus, irmão de João.
— E por que está faltando Simão Zelotes? indagou João novamente.
— Esse fanático! Os pensamentos dele circulam sempre em torno do mesmo ponto e, não obstante, devido à espécie de tais pessoas, quer sempre impor sua própria vontade! exclamou Mateus indignado.
— Mas eu acho, disse João, que nosso Senhor tinha uma intenção especial em ligar-nos estreitamente, mesmo assim, diferentes como somos. Cada um de nós deveria ser lapidado ou lapidar o outro. Juntos devemos formar um todo, refletindo todas as espécies da humanidade.
— E agora achas que nós, onze, deveríamos continuar juntos para que nenhum faça algo sem os outros? perguntou quase timidamente Tomé.
— Eu penso, disse João refletindo, que deveríamos nos esforçar em nos unir cada vez mais estreitamente; com isso superaríamos, também no futuro, todos os impedimentos existentes nas diferentes espécies do nosso ser.
— Assim também pensei, interrompeu Pedro, mas a respeito de tuas palavras, João, veio-me uma nova ideia: vivendo juntos e falando apenas sempre entre nós, como tornaríamos acessíveis a outrem as palavras de Jesus?
— Oh! Pedro, disse João sorrindo, novamente estás com o sim ou o não! Naturalmente seria errado se quiséssemos viver exclusivamente no nosso círculo. Devemos tomar contato com outros. Jesus nos mandou para o mundo expressamente! Pensai nisso! Aí devemos ir individualmente ou dois a dois. Mas quando, como hoje, nos reunimos, querendo nos aprofundar nos ensinamentos dele, devemos cuidar para que o nosso número esteja completo. Quantos mais, além desses, vierem a estar presentes, dar-se-á por si só, acrescentou, olhando para os não discípulos.”
Os Apóstolos de Jesus, Coleção O Mundo do Graal
"O conhecido “saci”, de uma só perna, certamente faz parte da espécie dos curupiras. Esses entes, quando se locomovem, dão realmente, às vezes, a impressão de que têm apenas uma perna…”
Roselis von Sass, Revelações Inéditas da História do Brasil

Sibélia Zanon
A beleza é mandamento na asa de passarinho. Se assim não fosse, a cor não habitaria tanta pena. Planando em altura e com leveza, a beleza é arrebatamento – um horizonte se deita sob suas asas.
A beleza chega a ser pungente – pulsa e se faz reconhecer fácil e intimamente. É essência e necessidade numa vida que busca inteirezas.
Por ser tão forte, chega a provocar desconforto ao revelar a ferida. Deflagra aquilo que o cotidiano – coberto com um manto tecido de dor e breu – não consegue ser. Ao iluminar a penumbra costumeira, a beleza constitui-se num lembrete da escassez e pode fazer doer uma saudade. O que parecia conforto passa a ser…

“Nas escarpadas encostas, que se situavam como proteção, no lado do poente, eles queriam pernoitar. Ali armaram suas peles em forma de tendas, para se protegerem contra o vento da noite. Construíram um pequeno fogão de pedras, para fazerem fogo à noite.
Então seguiram o caminho até alcançarem o fim da alta planície. O céu irradiava uma indescritível claridade, o Sol declinava e o mar parecia chamejar. No chão branco da margem arenosa e calcária, com leve declive, e cujas beiras eram lavadas pelo mar, pairava um brilho áureo-cintilante...”
Éfeso, Coleção o Mundo do Graal