Não me lembro do meu primeiro passo, nem da primeira vez em que eu corri para encontrar as ondas.
Mas eu me lembro de quando andei a cavalo e senti o vento – como se cabelos e crinas fossem um só corpo.
Um corpo livre, que desconhecia o próprio peso.
Quando eu nasci, os cavalos já corriam. As marés já se moviam. A Terra já girava.
A gente cresce pensando que precisa inventar a roda, mas acho que nasci para aprender a girar junto.
Somos mais livres quando fazemos parte, escolhendo entrar no fluxo natural, que inclui o respeito e traz benefícios para o todo. Fluxo que tece reciprocidade benfazeja.
Debaixo da árvore, vejo as folhas caindo. Uma força antiga e soberana faz tudo se renovar dentro de um grande ciclo, como se tudo e todos fizéssemos parte de uma mesma dança circular.
A natureza e suas forças seguem tocando todas as vidas.
Quero me ajustar aos ventos que botam folhas, cabelos e crinas a voar pelo espaço – sem dor, sem resistência, feito música.
Cada elemento, cada um de nós exercitando a potência de um acorde.
Liberdade é morar num corpo que se entende parte de um corpo maior.
“Saber, no entanto, é humildade! Pois quem possui o verdadeiro saber nunca pode excluir a humildade. São como uma só coisa. Com o verdadeiro saber surge, concomitantemente, a humildade como algo natural. Onde não existe humildade, jamais existe, igualmente, verdadeiro saber!Humildade, porém, é liberdade! Só na humildade reside a legítima liberdade de cada espírito humano!”

Sibélia Zanon
A beleza é mandamento na asa de passarinho. Se assim não fosse, a cor não habitaria tanta pena. Planando em altura e com leveza, a beleza é arrebatamento – um horizonte se deita sob suas asas.
A beleza chega a ser pungente – pulsa e se faz reconhecer fácil e intimamente. É essência e necessidade numa vida que busca inteirezas.
Por ser tão forte, chega a provocar desconforto ao revelar a ferida. Deflagra aquilo que o cotidiano – coberto com um manto tecido de dor e breu – não consegue ser. Ao iluminar a penumbra costumeira, a beleza constitui-se num lembrete da escassez e pode fazer doer uma saudade. O que parecia conforto passa a ser…

“Nas escarpadas encostas, que se situavam como proteção, no lado do poente, eles queriam pernoitar. Ali armaram suas peles em forma de tendas, para se protegerem contra o vento da noite. Construíram um pequeno fogão de pedras, para fazerem fogo à noite.
Então seguiram o caminho até alcançarem o fim da alta planície. O céu irradiava uma indescritível claridade, o Sol declinava e o mar parecia chamejar. No chão branco da margem arenosa e calcária, com leve declive, e cujas beiras eram lavadas pelo mar, pairava um brilho áureo-cintilante...”
Éfeso, Coleção o Mundo do Graal
“Qualquer exercício especial dá sempre apenas um mísero sucedâneo da força consciente da grande simplicidade, que reside na naturalidade do autodomínio permanente.”
Abdruschin, Na Luz da Verdade - Mensagem do Graal

