
“A festa da espiga de milho era algo especial. Muitos incas, principalmente camponeses denominados plantadores, viam durante a época de amadurecimento, entre os pés de milho, “espíritos” que desde os primórdios guardavam e cuidavam das sementes de cereais de toda a Terra para os seres humanos.
Naturalmente, não se tratavam de espíritos humanos, estes que apareciam e desapareciam entre as plantas. Isso evidentemente percebia cada um que conhecia esses espíritos da natureza geralmente invisíveis. Seus olhos tinham uma luminosidade vermelha, e seu adorno de cabeça parecia uma coroa de espigas, a qual brilhava como prata. Em sua volta revoavam fagulhas de luz vermelha e prateada, semelhantes a grãos de cereais transparentes.”
Roselis von Sass, A Verdade Sobre os Incas

Sibélia Zanon
A beleza é mandamento na asa de passarinho. Se assim não fosse, a cor não habitaria tanta pena. Planando em altura e com leveza, a beleza é arrebatamento – um horizonte se deita sob suas asas.
A beleza chega a ser pungente – pulsa e se faz reconhecer fácil e intimamente. É essência e necessidade numa vida que busca inteirezas.
Por ser tão forte, chega a provocar desconforto ao revelar a ferida. Deflagra aquilo que o cotidiano – coberto com um manto tecido de dor e breu – não consegue ser. Ao iluminar a penumbra costumeira, a beleza constitui-se num lembrete da escassez e pode fazer doer uma saudade. O que parecia conforto passa a ser…
“Entoavam canções nas quais vibravam alegria e agradecimento, mas também uma certa tristeza. Tristeza por serem obrigados a abandonar seus queridos animais, que eram livres, e, mesmo assim, tinham vivido ali junto deles. Desde quando a lembrança alcançava, os animais foram sempre seus companheiros.’”
Roselis von Sass, A Verdade sobre os Incas
