Presa por um fio, solta pelo vento. Lá vai a pipa. O que queremos soltar e o que queremos conservar como solidez para seguirmos adiante? Nestes tempos, em que situações extremas batem à porta nas mais diversas áreas da vida, somos confrontados e pressionados. Somos enfaticamente convidados a fazer uma revisão de nossos papéis e de nossas certezas. Podemos até achar que somos livres, como uma pipa ao vento. Mas, se prestarmos atenção, talvez estejamos ainda ligados por um fio a valores que precisam ser deixados ou reformulados.
Acreditar sempre na máxima de que “basta viver e não incomodar”, pode, em alguns casos, trazer resultados bem diversos do sossego e da calmaria esperada. Estranhamos, porém, quando desse tão “inofensivo” plantio em busca de uma vida sem quinas nem arestas — e aparentemente ausente de atritos — colhe-se o caos.
Ora ele parece curto, ora comprido. Mas nunca encolhe nem estica. O tempo fica parado, e somos nós que nos movemos. O tempo das obrigações nos pressiona do lado de fora, enquanto por dentro funcionamos em outro ritmo. A maturação interior precisa dos mergulhos na concretude do presente, mergulhos na textura da folha e nos cheiros da terra, mergulhos no tocar e ser tocado pela vida. Amarrados em burocracias e dificuldades – a maioria delas arquitetadas por nossas escolhas anteriores –, sentimos o tempo acorrentado. A densidade de tudo o que nos cerca torna o experimentar menos fluido e mais pesado.