Vazante

abril 11, 2023

Pintura em aquarela de uma pessoa girando com leveza vista do alto

Às vezes anseio pela vazante. Tempo de esvaziar, verter, derramar tudo para poder ser calmaria. Contemplo a planície com presença. O horizonte parece distante e intocado como se ainda houvesse tempo. Sinto o cheiro da água que se esvai como se a tarde fosse toda construída para o olfato. Revisito na memória os lugares e as pessoas da semana que se foi. Contemplo o vazio e ele me contempla. Me preencho de espaço.
Não é pouco tudo o que cabe nas horas vazias.
“Ando muito completo de vazios”, escreve Manoel de Barros.
Na arquitetura, os espaços vazios são mais do que a ausência de construção. Eles são pequenos silêncios, possibilidades de interação com a natureza e com as pessoas, espaços para o apogeu absoluto da luz natural.
Na música, o vazio de som é parte da melodia. O tempo musical se dá pela sucessão de sons e silêncios.
Na natureza, o ciclo hidrológico de determinadas paisagens inclui a enchente, a cheia, a vazante e a seca. O pulso da água vai moldando a paisagem e se faz importante em cada etapa.
Vivemos épocas de cheias. Cheios de informação. Cheios de compromissos. Cheios de preocupações. Cheios de ideias. Cheios de opiniões. Cheios de certezas. É como se nosso interior fosse constantemente inundação.
Sem o vazio, sem a vazante, sem o silêncio, a paisagem interior perde a saúde e a luz natural. 
Cheia boa é aquela que se dá em ciclos e alterna com a vazante. É nos momentos de seca que somos preenchidos de vazios e é nessa ausência de construção que a luz natural acha espaço para entrar.

“A hora de descanso deverá levar-te à meditação interior, fazer com que reflitas sobre tua existência terrena de até então, principalmente, porém, sobre os dias de trabalho da semana finda, tirando disso conclusões proveitosas para o teu futuro.”

Os Dez Mandamentos e o Pai Nosso
Abdruschin


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