Uma amiga me contou que, quando pequena, sempre usava as roupas da irmã
mais velha. Porém, seu pai nunca quis que ela herdasse os sapatos da irmã. Ele
acreditava que cada pessoa desenvolve seus pés de uma forma toda particular,
moldando sua própria fôrma. Nunca a pisada de uma seria igual à da outra. Por
isso, ela sempre teve sapatos novos.
Cada pé com o seu sapato. É assim que nos desenvolvemos e seguimos,
dentro dos nossos próprios moldes. Mas, e se experimentarmos algo diferente,
mesmo que por curto tempo? Num evento para educadores, a palestrante pediu que
todos tirassem os sapatos e colocassem no meio da roda. Depois, cada um foi
convidado a escolher qualquer par do centro, desde que não fosse o seu. Eles
calçaram os sapatos alheios e deram uma voltinha pela sala. O caminhar
desengonçado e manco mostrou o óbvio: pode não ser nada fácil entender os
passos do outro. Como entender a sua dor, as suas escolhas, as ações e as
reações, por vezes tão estranhas?
Entre 1979 e 1982, Patricia Moore se lançou num experimento ousado.
Recém-formada em design,com 26 anos na época, vestiu-se como uma
senhora de mais de 80 anos e submeteu-se a diversas experiências para poder
sentir, na própria pele, quais eram as dificuldades encontradas em atividades
cotidianas, como pegar um ônibus cheio, fazer compras num mercado, subir a
escada íngreme
do metrô.
A designerhavia perguntado aosseus colegas de
trabalho se seria possível desenvolver uma geladeira que fosse facilmente
aberta por uma pessoa com artrite. Um de seus colegas respondeu, com desdém,
que eles não faziam designpara essas pessoas. Ela não gostou da
resposta e lançou-se na vivência que fez com que desenvolvesse, mais tarde,
diversos produtos inovadores, que puderam ser usados por pessoas idosas,
inclusive aquelas com artrite. Patricia ficou conhecida como fundadora do design
inclusivo, que se ocupa com o desenvolvimento de produtos para todos os tipos
de pessoas.
Naturalmente, não se supõe que a única forma de exercer a empatia é por
meio de um experimento de imersão radical. Imaginar-se no lugar do outro pode
se transformar num exercício cotidiano, capaz de mudar a forma de sentir a
realidade e de se relacionar. Assim, muitas áreas buscam agregar a empatia em
suas práticas, como é o caso da medicina, no que se refere à relação do
profissional da saúde com o paciente. Também nas relações empresariais, fala-se
em design thinking,uma nova forma de desenvolver soluções, que trabalha
com empatia, colaboração e experimentação, tendo como princípio a inovação
voltada para as necessidades reais das pessoas.
No livro O poder da empatia – a arte de se colocar no lugar do outro
para transformar o mundo,Roman Krznaric, historiador e membro fundador da The
School of Lifede Londres, diferencia a empatia da sensação de piedade ou
de pesar, pois as últimas não implicam necessariamente na tentativa de
compreender o ponto de vista da outra pessoa.
Contudo, pode-se dizer que há uma conexão significativa entre a empatia
e a misericórdia. Familiarizar-se com a dor alheia e colocar-se no lugar do
outro faz com que surja a disposição de ajudar. Para Matthieu Ricard, doutor
em genética molecular e monge budista, enquanto a empatia nos alerta para o
sofrimento do outro, o amor altruísta e a misericórdia são sentimentos
positivos que colaboram para o auxílio ao próximo e a melhoria nas relações.
E se realmente tivéssemos a capacidade
de ver com os olhos de outra pessoa?
E de experimentar o mundo com a sensibilidade de uma terceira? Teríamos mais
facilidade em nos relacionar e mais cuidado ao julgar?
"—Li-Erl, filho dos jardins sagrados, grande foi a graça que Deus me proporcionou, permitindo-me ver-te. Puro como Ele te enviou, assim te conservaste. Guiado pela Pureza terás de caminhar por entre os homens, reavivando a Luz que se extingue, trazendo a Verdade àqueles que se asfixiam nos pecados.”
"— Maon, o sábio, já se encontra em tua casa, Alaparos. Ele unirá Maris Iamin e Scham-Haran na Terra com as flores da pureza." Roselis von Sass, A Desconhecida Babilônia