Sementeira de ideias

maio 28, 2019

Sibélia Zanon

A menina colecionava sementes no quintal.

Chamava-as de nenéns.

Cuidava dos nenéns como se cuida de gente pequena.

Olhava uma a uma e juntava-as num saquinho de pano ou nos bolsos da calça fofa de veludo.

Todo mundo tem uma lembrança de colher fruta do pé ou semente do chão. Não é à toa. Essas ações, aparentemente simples, guardam em si perfume e frescor e despertam gratidão pela grandiosidade e fartura que a natureza oferta.

Mais do que dadivosa, a natureza é fonte inesgotável de alegorias sobre a vida, o que provoca a colheita de ideias, além da colheita dos frutos.

Uma colheita que ficou armazenada na minha memória foi a de pinhões num dia de férias de outono. Já notou que colher pinhões mantém o olhar encantado no chão? De pinhão em pinhão, ficamos concentrados em busca da próxima semente e assim podemos passar um bom tempo, dia adentro, sem notar o que está acontecendo ao redor.

Naquele mesmo final de tarde, já com uma sacola cheia das sementes, o anoitecer chegou trazendo uma surpresa. O cenário era o mesmo, mas o olhar já não buscava os pinhões do chão. Entre as araucárias, surgiam muitas estrelas, salpicando de luz céu e árvores como num Van Gogh de amarelos e azuis. O olhar, atraído para o céu como um ímã, ficou lá como se pudesse alimentar-se também de estrelas.

A experiência daquele dia me fez pensar sobre o equilíbrio: Quanto do nosso tempo de vida passamos cuidando das coisas que são terra e quanto tempo mantemos presente a lembrança do céu?

“Finalmente chegou o dia por todas as crianças tão ardentemente esperado: o dia de ‘espalhar sementes’.

Ao nascer do sol, as crianças, montando pequenos burricos ou sentadas em três sobre robustas mulas, saíram da cidade. Cavalgavam, aliás, em direções diferentes, espalhando sementes. Cada criança carregava uma cestinha, trançada por ela mesma, cheia de sementes, bem como uma pazinha de madeira. As sementes de tâmaras não eram espalhadas, mas, sim, eram plantadas cuidadosamente no chão arenoso.

As crianças juntavam para essa finalidade as sementes de todas as frutas que comiam durante o ano inteiro, bem como as sementes de flores, arbustos, de especiarias e até de gramas.”

Roselis von Sass, Sabá, o País das Mil Fragrâncias



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Então seguiram o caminho até alcançarem o fim da alta planície. O céu irradiava uma indescritível claridade, o Sol declinava e o mar parecia chamejar. No chão branco da margem arenosa e calcária, com leve declive, e cujas beiras eram lavadas pelo mar, pairava um brilho áureo-cintilante...”


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