Praticar apreço

setembro 02, 2023

Ilustração de pássaro construindo ninho e teia nas proximidades


Muito queremos crescer. Alongar o corpo e a mente, expandindo conhecimentos e habilidades. Ir adiante, quem sabe esticar o horizonte usando três fios de teia de aranha, como diria Manoel de Barros.

Olhamos para fora e pensamos no que ainda precisa ser conquistado.

— O que você quer ser quando crescer? – Perguntamos sem perceber que não é tão simples e óbvio nos sentirmos efetivamente crescidos e que sempre somos uma inteireza, inclusive na infância. 

Plantas também buscam movimentos de expandir, esticar, alcançar. E seus ciclos incluem momentos de se retrair, acalentar as energias de dentro, economizar forças para o novo broto.

Alongar é bom, melhora a amplitude dos movimentos e a postura, reduz a dor muscular. Mas até o fio da teia tem seus limites de expansão. Às vezes, o corpo não consegue. E por que precisa conseguir?

Queremos tanto expandir, conquistar algo novo que, por vezes, esquecemos do território que já somos: das riquezas e potencialidades naturais, dos pequenos e grandes feitos, daquilo que está ao alcance, da desnecessidade de sermos movidos pela ânsia do conquistador –como se a relevância estivesse sempre em colonizar novas paragens.

Os limites são bons, as fronteiras geram segurança e definem. Dizem que ser seguro não é acreditar que tudo pode, mas entender sobre os próprios limites. E é nas fronteiras dos limites que fazemos os melhores escambos. Doamos e colhemos do outro. A troca se faz jardim de expansão e só acontece porque existe toda uma terra já fertilizada, ocupada daquilo que somos e daquilo que o outro é. 

Ser o que cabe dentro dos fios do horizonte pessoal, esticando na medida da própria natureza, prezando o que já faz parte do ser, despindo-se da mentalidade do colonizador é um jeito de praticar o apreço.

O que se pode fazer com três fios de teia de aranha? Em vez de esticar o horizonte, o beija-flor despratica as normas e usa os fios para abraçar e firmar o próprio ninho.



Leia Também

Direitos iguais

fevereiro 08, 2025

 

“- Os ursos querem que tomemos banho junto com eles! exclamou um dos incas, enquanto se dirigia até o urso que estava no meio do rio. Visivelmente contentes por tanta compreensão, todos os ursos se lançaram à água. Mergulhavam, arfavam e cutucavam sempre de novo os seres humanos que pescavam seus ponchos. Somente quando um dos incas jogou bastante água nos ursos, eles sossegaram, troteando rio abaixo.

- Temos de procurar um outro local para nossas casas de provisões! disse um dos mestres-de-obras. Encontramo-nos numa região pertencente aos ursos.”

Roselis von Sass, A Verdade Sobre os Incas

 

 

Leia Mais
No equilíbrio do ser

fevereiro 04, 2025

 

 

Leia Mais
Superando o medo

fevereiro 01, 2025


Abdruschin, Na Luz da Verdade - Mensagem do Graal

 

Leia Mais