Sibélia Zanon
“Certamente, cada um, individualmente, pode organizar sua vida conforme desejar. Não obstante, também ficará submetido a uma ordem. Seu corpo terreno necessita de sono, alimentação e movimento… Antigamente os corpos trabalhavam como instrumentos bem afinados no ritmo do tempo. Isso, porém, já faz muito tempo… Como a existência dos seres humanos era cheia de alegria, quando se adaptavam à ordem reinante na natureza!”
Roselis von Sass, O Livro do Juízo Final
Muita coisa começa com a anta. Isso: o mamífero. Quando a semente passa pelo trato digestivo da espécie dispersora de sementes, ela se torna mais propícia ao broto. A mastigação e as enzimas do estômago da anta rompem as proteções da camada externa da semente, deixando a água e os nutrientes entrarem em contato. Inicia-se a germinação.
Assim, acontece um processo de coevolução, em que plantas e animais beneficiam um ao outro. Com seu perfil plantador, a anta colabora com a abundância de alimentos e enriquece a biodiversidade.
Somos parte de uma vida repleta de ciclos colaborativos. Nascemos em ambiente organizado para receber e abrigar muitas formas de vida.
A Lei da Gravidade, por exemplo, mantém os planetas ao redor do Sol, faz com que a atmosfera não se disperse pelo espaço e mantém a água correndo e se acumulando em seus cursos.
O ciclo da água inclui a evaporação dos oceanos, a condensação em nuvens, até a água cair chuva. Também o ar que respiramos purificado faz parte de um ciclo. Na expiração, devolvemos ao ambiente o ar que alimenta a continuidade.
A energia se dá também em ciclo. Ela não é rompida, mas continuamente transformada: as plantas capturam a energia do Sol e, pela fotossíntese, transformam essa energia para consumidores na cadeia alimentar.
Estudiosos que se debruçam sobre as relações estabelecidas na natureza são convictos de que a principal força que molda a vida dos seres vivos – humanos e não humanos –, incluindo também a vida nas cidades, é a cooperação.
“As espécies, principalmente as plantas, conseguem encontrar conveniência mútua por meio do ajuste lento e contínuo de suas relações, guiado, geração após geração, pela evolução. É em decorrência de um processo de coevolução semelhante, no qual humanos, meio ambiente, construções, redes, plantas e animais se transformam, que as cidades podem se desenvolver e prosperar”, escreve Stefano Mancuso em A planta do mundo.
Viver é experimentar exatamente isso: cuidar de uma pequena parte, de modo a agregar ao todo. Qual a nossa colaboração na transformação da energia que nos mantém vivos? Qual o melhor encaixe que podemos fazer de nós mesmos dentro de um sistema que já trabalha, por natureza, de forma colaborativa?
Exercitar o melhor encaixe de tudo aquilo que somos é o que a vida quer. O melhor encaixe de todas as camadas nossas, considerando o nosso corpo de fora e os nossos corpos de dentro, que sempre reverberam com o mundo ao redor: “tudo o que uma pessoa pensa ou faz continua a viver”, escreve Roselis von Sass em O Livro do Juízo Final.
“Bilhões de corpos celestes movimentam-se em marcha harmoniosa em suas órbitas demarcadas. Cada modificação que ocorre nos astros, cada nova formação e cada decomposição no superamadurecimento começa e termina no espaço de tempo para isso previsto.
Cada modificação ou desvio no horário universal planejado acarretaria inimagináveis catástrofes no mundo dos astros. Um acontecimento predestinado não pode ser adiado nem ser detido. Ele se cumpre irrefutavelmente, quando o relógio do Universo dá para isso o sinal!”
Roselis von Sass, O Livro do Juízo Final