Festa da Batatinha

julho 02, 2016

Sibélia Zanon


Em frente ao 
portão A6,
 a mãe e três 
crianças esperavam o
 embarque sentadas 
nas poltronas pretas. As 
crianças comiam batatinha chips,cada uma com seu saquinho. Ora sentavam, ora levantavam e passeavam ali por perto com as batatinhas nas mãos.

A menina mais jovem havia se libertado do par de tênis cor-de-rosa, que agora estava jogado embaixo dos assentos. Andava pra lá e pra cá com suas meias, igualmente cor-de-rosa. O menino, animado, apoiava o suco de caixinha no braço de um dos assentos, enquanto se servia de outra batatinha. A menina mais velha comia sentada.

A festinha não tinha nada de mal porque crianças têm a sorte de não ter vergonha de mostrar suas meias e, por isso, podem largar os tênis quando eles estão apertando o dedo mindinho. O mal, porém, estava nos rastros.

Não estamos falando de migalhas invisíveis, mas de rastros consistentes em vários assentos da sala de espera do portão A6. No balanço final podíamos contar: uma mãe, três crianças e cinco assentos sujos.

Na hora do embarque, o quarteto foi embora voando e deixou que as sobras da festinha contassem sua história para quem quisesse ouvir. Ou melhor, para quem tivesse que sentir.

Com a sala cheia, as vítimas foram se aproximando. Primeiro chegou um moço com a mãe de idade. Ele passou a mão nas duas cadeiras que usariam, afastando as batatas. Esfregou depois os dedos entre si, como se estivessem sujos.

Depois veio uma moça jovem e bem vestida. Ela abriu a bolsa e pegou um pacote de lenços descartáveis. Com um dos lenços, limpou a cadeira antes de se sentar.



O meu voo estava atrasado. Por isso, tive ainda tempo de pensar: se o filme fosse Corra Lola, Corra(Lola Rennt,1998) poderíamos escolher uma nova versão para a história. Na minha nova versão, antes de embarcar, a mãe reuniria as três crianças, entregaria a cada uma delas um lenço de papel e as acompanharia na missão impossível de deixar os cinco assentos limpos, do jeito que foram encontrados, sem vestígios, para os próximos usuários. Qual seria a sua versão?




Leia Também

Movimento do Natal

dezembro 23, 2025


Maria de Fátima Seehagen

O número de dias que antecedem o Natal aumentou! O movimento da maioria das pessoas em torno desta data, também... Parece urgente iniciar as celebrações mais cedo. Uns correm atrás de presentes, outros atrás de comidas, outro tanto se prepara para as férias e para rever os parentes e amigos queridos...

Na mídia enormes papais-noéis invadem todos os horários publicitários, prometendo as mais diversificadas sensações...

Leia Mais
O VAGA-LUME - EDIÇÃO 73

dezembro 22, 2025

Tocar a vida com cuidado: escutar e ser escutado, apoiar e ser apoiado. Fortalecer a colaboração em vez da competição. Cuidar de si — do corpo ao pensamento — para que a própria potência possa expressar-se. O ato de cuidar sustenta a base da vida e atravessa a existência inteira, de forma visível e também invisível, tecendo redes interdependentes de nutrição e afeto.

Leia Mais
Naturalmente aprendizes

dezembro 18, 2025


Daniela Schmitz Wortmeyer

Ao observar os primeiros passos de uma criança, vislumbramos princípios que norteiam o desenvolvimento durante toda a vida. Para aprender a caminhar, é preciso passar por várias etapas: desde os primeiros esforços para erguer a cabeça, sustentar o corpo na posição sentada, rastejar pelo solo, engatinhar, até o ensaio dos primeiros passos… Trata-se de um processo que envolve experimentação, tentativas e erros, em que as capacidades da criança vão sendo gradualmente desenvolvidas. Seus esforços costumam ser acolhidos com naturalidade, compreensão e apoio, e cada nova possibilidade explorada se torna motivo de alegria.

Com o passar do tempo, porém, passamos a enfatizar certos indicadores de “sucesso”, deixando de valorizar o…

Leia Mais