Quando
pequena eu gostava de colecionar sementes que achava no quintal. Chamava-as de
nenéns e cuidava delas como se cuida de gente pequena. Olhava uma a uma e
juntava-as num saquinho de pano ou nos bolsos da calça fofa de veludo.
Colecionar
experiências é tarefa exigente. Depende da intensidade ou atenção com que
vivemos o presente e nele nos movimentamos. Depende da abertura que
desenvolvemos para aproveitar toda a potencialidade daquilo que nos acontece.
Depende, ainda, do poder de maravilhar-se com o ordinário no cotidiano.
Assim,
muitas vezes, uma vivência pode ser despertada por uma observação atenta da
natureza e até mesmo por meio de um filme, um livro, uma notícia, uma música
e não apenas por aquilo que nos atinge de forma intensa, sejam insucessos ou
felicidades.
Contudo,
para conseguir extrair das experiências o significado é preciso movimentar-se.
Isso não significa, necessariamente, buscar experiências extraordinárias, mas
ter o euaberto e atento ao presente e a todos os pequenos e grandes
acontecimentos, refletindo sobre as ações individuais e coletivas, suas motivações,
consequências e significados. Com o olhar alerta, podemos ir colecionando
aquelas sementes do cotidiano, que guardam em si o potencial de brotar
vivências significativas dentro de cada um.
Experiências podem ser transformadoras. Podem fazer com que formas antigas de pensar morram para dar espaço a novas maneiras de sentir e de agir. É como se pudesse brotar um jeito novo de ver uma mesma coisa ou, ainda, um jeito novo de notar algo que antes não nos chamava atenção. Assim, podem morrer ilusões emprestadas ou conceitos rígidos para, depois, nascerem formas vivas e...