Sibélia Zanon
Na biografia de Alexander von Humboldt, Andrea Wulf conta que o cientista era acometido por uma espécie de desassossego febril. A sede por conhecimento ocupava seus pensamentos dia e noite.
“Ele realizava experimentos, escrevia sobre sua expedição e discutia suas teorias com seus novos amigos cientistas. Humboldt trabalhava tanto que aparentemente ‘noite e dia formam uma só massa de tempo’ durante a qual ele trabalhava, dormia e comia, observou um norte-americano em visita a Paris, ‘sem fazer nenhuma divisão arbitrária das horas’”, escreve Wulf em A invenção da natureza.
Quando se encontrava com outros cientistas, as trocas pareciam gerar faíscas. “Goethe, que detestava o frio e normalmente teria preferido o calor crepitante de sua lareira, não podia estar mais feliz. Ele não conseguia parar de falar. A presença de Humboldt o estimulava.”
Tudo começa com pensamentos. E pensamentos formam mundos. São muitos os tipos de pensamento que pairam ao redor. Eles podem ser alimentados ou não pela nossa vontade, podem ser direcionados como aliados ou mesmo ganhar vida como inimigos.
Muitas vezes, o ânimo em torno de determinado objeto de estudo ou objetivo tem como aliado o pensamento concentrado, que se faz ferramenta poderosa na atração de inspiração e pensamentos análogos. Chovem soluções.
Abdruschin escreve em Na Luz da Verdade: “Refletes, por exemplo, seriamente sobre determinada coisa, tal pensamento se tornará fortemente magnético dentro de ti pelo poder do silêncio e atrairá todos os semelhantes, tornando-se, desse modo, fertilizado.”
Diferentemente ocorre com a grande maioria dos pensamentos atuais: voláteis, distraídos e difusos. Em tempos de grande oferta de conteúdo, informação e imagem, o pensamento vagueia facilmente sem destino e evapora ao transitar por temas aleatórios antes de alcançar qualquer aprofundamento. Realizações e soluções são, por isso, muitas vezes adiadas.
Além da grande nuvem de pensamentos distraídos, está sempre à espreita a nuvem dos pensamentos negativos, que aumentam a gravidade dos acontecimentos e pesam mais do que a própria realidade.
Pensamentos de culpa, por exemplo, não servem à resolução de uma questão, mas colaboram com o ensimesmamento. Deixar que o pensamento circule repetida e obsessivamente em torno da mesma narrativa mental sobre algum erro cometido gera hipóteses assustadoras, cansaço, angústia e se transforma numa espécie de autofustigação. A lamentação recorrente acaba sendo uma forma de distração daquela que seria uma atuação consciente, propositiva e enraizada no presente.
Também as crenças e os juízos internos podem alimentar pensamentos de sofrimento. Quando acreditamos fortemente em algo e o que acontece contraria nossas crenças, nós nos sentimos feridos e sem controle. Mas será que estamos em processo constante de revisão, fazendo com que nossas crenças tenham a humildade e a flexibilidade necessárias para estarem em dia com os verdadeiros valores da vida?
Por vezes, falta leveza e gentileza na forma de olharmos a própria trajetória. Falta o entendimento de que acontecimentos adversos e ajustes de rota fazem parte do processo, do experimento constante que é estar vivo. Cuidar do direcionamento dos pensamentos e buscar viver com intensidade o momento presente podem ser antídotos para o sofrimento gerado pela mente.
Considerando que pensamentos formam mundos, toda contribuição importa para a construção. Cultivar apreço pela vida e seus processos é uma forma de cuidar do nascedouro dos próprios pensamentos. Alinhar o desejo pessoal à construção de mundos benfazejos é um jeito de alimentar as nuvens de pensamentos criativos, amorosos e realizadores que, ao crescerem, podem chover por aí sempre que alguém buscar essa conexão.
Quando fica demasiadamente solto, deixa todo tipo de influência externa ocupar espaço, ganhar voz e até...
Durante a navegação, é o leme que controla a direção. Com o leme solto, a embarcação fica vulnerável aos ventos e correntes marítimas, podendo perder direção e estabilidade. Um bom timoneiro conduz o leme com foco, sem deixar de se adaptar às condições climáticas. O pensamento é o leme que direciona a trajetória. Quando fica demasiadamente solto, deixa todo tipo de influência externa ocupar espaço, ganhar voz e até provocar tormentas. Quando está bem focado, o pensamento direciona para o alvo, mesmo que intempéries surjam pelo caminho.