“Todas as vezes que surpreendia o pai com disposição de contar histórias, assaltava-o com uma torrente de perguntas, curioso em saber coisas de sua infância ou do passado longínquo da família. Certo dia, havia insistido de tal maneira com o pai, que este acabou cedendo em prestar as informações que o menino desejava.
— Meu irmãozinho tem o nome do meu avô. Era o teu pai? Ouço falar que o povo tem grande respeito pelo príncipe Suddhôdana, mas, de minha avó, nada sei até hoje. Era bonita como mamãe?
— Sim, era bonita como tua mãe e tinha o mesmo nome dela: chamava-se Maya. Pertencia a uma estirpe de príncipes, do outro lado do Himalaia. Nunca cheguei a vê-la. Morreu poucos dias depois que nasci.
— Então, tu ficaste sem mãe? E quem tratou de ti?
— O velho e devotado Kápila, nosso servo, que, naquele tempo, ainda era moço, e Kusi, sua mulher. Meu pai não dispunha do necessário tempo para cuidar de mim: os seus vizinhos davam-lhe muito que fazer. Pretendiam arrebatar-lhe as terras, de sorte que ele se via sempre forçado a se ausentar em expedições militares, a fim de enxotá-los das fronteiras. Nunca, porém, me faltou nada. A dedicação dos dois me rodeava de tudo quanto uma criança tem necessidade.
— E de amor também? perguntou Maya, interferindo na conversa. Não podia ela imaginar que uma criança sem mãe de nada sentisse falta.
— Como não?! Com amor e carinho também, reafirmou, com ênfase, o príncipe. E, quanto mais eu crescia, mais ia reconhecendo aquela desvelada abnegação, nascida não de conveniências sociais, mas capaz de dar a vida pelo ente querido, se preciso fosse. Esse, sim, é o verdadeiro amor.”
Buddha, Coleção o Mundo do Graal
“A primeira intuição que se manifesta quando desperta o amor puro é o julgar-se indigno diante do ser querido. Com outras palavras, pode-se descrever esse fenômeno como o princípio da modéstia e da humildade, portanto, o recebimento de duas grandes virtudes.”
Abdruschin, Na Luz da Verdade - Mensagem do Graal