Faz algumas semanas dirigi 30 km, por uma hora, à noite, para ir a um curso que começaria naquela terça. Quando cheguei à recepção do instituto, 15 minutos antes do início, a recepcionista disse que o curso só começaria na semana seguinte. Ela desfilou uma lista de justificativas para o fato de não ter me avisado em tempo e, assim que a lista acabou, eu fui embora.
Fui embora com a mania daqueles que escrevem e querem editar o texto sempre uma vez mais. Naquela ocasião, eu queria editar o episódio. Na minha ficção, a recepcionista pediria desculpas e me convidaria para conhecer o instituto e para tomar uma água.
Mas a vida é real e nem sempre admite edições. Na vida real, aprendemos desde pequenos que é feio errar, que devemos ganhar e acertar e que o erro é sinônimo de fracasso. O erro raramente é apoiado como parte de um processo que poderá levar ao acerto. Assim, pedir desculpas significa assumir uma responsabilidade ou um erro e isso pode ter um preço. Mas será que temos pensado no preço de não assumi-los? Já escutei adultos falando para crianças que desculpa e obrigada são palavras mágicas. Eu acho que eles têm razão.
Basta imaginar o que é dirigir um carro sem amortecedor e depois dirigir outro com. Pedir desculpas funciona como um amortecedor das relações, algo que nos torna mais humanos, fortes por assumirmos nossa vulnerabilidade, mais aconchegantes e acolhedores.
E qual o preço de sermos aconchegantes e acolhedores? Qual o preço de assumirmos que somos pessoas em processo de aprendizagem que podem falhar? Não importa, porque certamente mais alto é o preço de se sentir permanentemente impotente, incapaz e sem a coragem de assumir quem se é.
Talvez posicionar-se perante o outro, aceitando os próprios acertos e erros, seja um preço justo a pagar para tornar-se uma pessoa mais potente e para que as crianças finalmente entendam, por exemplos práticos e não apenas no discurso, o quanto as palavras podem ser mágicas.