Faz algumas semanas dirigi 30 km, por uma hora, à noite, para ir a um curso que começaria naquela terça. Quando cheguei à recepção do instituto, 15 minutos antes do início, a recepcionista disse que o curso só começaria na semana seguinte. Ela desfilou uma lista de justificativas para o fato de não ter me avisado em tempo e, assim que a lista acabou, eu fui embora.
Fui embora com a mania daqueles que escrevem e querem editar o texto sempre uma vez mais. Naquela ocasião, eu queria editar o episódio. Na minha ficção, a recepcionista pediria desculpas e me convidaria para conhecer o instituto e para tomar uma água.
Mas a vida é real e nem sempre admite edições. Na vida real, aprendemos desde pequenos que é feio errar, que devemos ganhar e acertar e que o erro é sinônimo de fracasso. O erro raramente é apoiado como parte de um processo que poderá levar ao acerto. Assim, pedir desculpas significa assumir uma responsabilidade ou um erro e isso pode ter um preço. Mas será que temos pensado no preço de não assumi-los? Já escutei adultos falando para crianças que desculpa e obrigada são palavras mágicas. Eu acho que eles têm razão.
Basta imaginar o que é dirigir um carro sem amortecedor e depois dirigir outro com. Pedir desculpas funciona como um amortecedor das relações, algo que nos torna mais humanos, fortes por assumirmos nossa vulnerabilidade, mais aconchegantes e acolhedores.
E qual o preço de sermos aconchegantes e acolhedores? Qual o preço de assumirmos que somos pessoas em processo de aprendizagem que podem falhar? Não importa, porque certamente mais alto é o preço de se sentir permanentemente impotente, incapaz e sem a coragem de assumir quem se é.
Talvez posicionar-se perante o outro, aceitando os próprios acertos e erros, seja um preço justo a pagar para tornar-se uma pessoa mais potente e para que as crianças finalmente entendam, por exemplos práticos e não apenas no discurso, o quanto as palavras podem ser mágicas.
“Nas escarpadas encostas, que se situavam como proteção, no lado do poente, eles queriam pernoitar. Ali armaram suas peles em forma de tendas, para se protegerem contra o vento da noite. Construíram um pequeno fogão de pedras, para fazerem fogo à noite.
Então seguiram o caminho até alcançarem o fim da alta planície. O céu irradiava uma indescritível claridade, o Sol declinava e o mar parecia chamejar. No chão branco da margem arenosa e calcária, com leve declive, e cujas beiras eram lavadas pelo mar, pairava um brilho áureo-cintilante...”
Éfeso, Coleção o Mundo do Graal
“Qualquer exercício especial dá sempre apenas um mísero sucedâneo da força consciente da grande simplicidade, que reside na naturalidade do autodomínio permanente.”
Abdruschin, Na Luz da Verdade - Mensagem do Graal