Raízes ocultas

setembro 01, 2014

Sibélia Zanon


Toda árvore tem raízes
 e cada uma a seu jeito. 
Algumas possuem raízes
 que habitam profundezas subterrâneas; outras, raízes aéreas 
ou aquáticas. Qualquer que seja o tipo da raiz, sua função é sempre relevante. Sustenta a planta com equilíbrio e absorve substâncias fundamentais para a sobrevivência, como água e minerais.

O ser humano também tem raízes. Mesmo que alguns prefiram, por vezes, ignorá­-las, elas são um ponto de equilíbrio, algo conhecido, que nos traz a sensação de pertencimento, nos faz compreender em que solo estamos pisando e quais são as regras, os sabores, as caras, os jeitos e gestos que permeiam aquele espaço. Mas quais seriam mesmo as nossas caras, jeitos e gestos?

Somos mestiços de índio, africano, polonês, português, italiano, espanhol, entre tantos outros povos, e ainda assim temos uma raiz comum. Além do território continental, as nossas diversas origens levam muitos a dizerem que dentro do Brasil há muitos brasis, nações dentro de uma nação.

A respeito de nossas raízes, o fotógrafo Sebastião Salgado afirmou certa vez: “Isso é uma coisa fantástica no Brasil, que os brasileiros não conhecem bem. Um pedaço grande da nossa história e uma grande constituinte da nossa raça são os índios brasileiros. A gente fica procurando a Idade Média dos outros, da Europa e nós temos uma história fabulosa que desconhecemos. É a cultura indígena brasileira”.

A escritora Roselis von Sass relata emRevelações Inéditas daHistória do Brasil:“Os povos antigos do Brasil eram bem desenvolvidos não apenas espiritualmente, como também terrenalmente. Eles assemelhavam-­se em muito aos primeiros sábios da Caldeia, que viveram há sete mil anos. Principalmente no que se referia aos conhecimentos de botânica, geologia, zoologia e astronomia. Em tudo o que se refere à natureza eles superavam amplamente a ‘civilizada’ humanidade hodierna.” Infelizmente muito desse saber dos povos antigos também se perdeu ao longo do tempo, e as culturas dos povos indígenas atuais guardam apenas pálidos traços dessa herança.

No que diz respeito à civilização moderna, realmente a sua maneira de “construir destruindo” preocupa muitos. “Hoje, se a gente quiser sobreviver como espécie, temos que reconstruir uma parte do que destruímos para poder viver em equilíbrio com a natureza, porque nós somos natureza também. Senão, a natureza bota a gente para fora e ela refaz sozinha o que nós destruímos”, disse ainda Salgado. Se não aprendermos a avançar e a evoluir, respeitando os ciclos da vida, corremos o risco de sermos expulsos da nação natureza.

Sendo parte da natureza, nossas raízes se alimentam de muitos aspectos relativos ao local em que nascemos. Sofremos de uma espécie de patriotismo anímico. “O corpo terreno está ligado àquela parteda Terra onde nasceu! Intimamente ligado também com todas as estrelas dessa bem determinada parte e com todas as irradiações que a ela pertencem. De maneira ampla, muito mais do que podeis imaginar! Somente aquelaparte desta Terra dá ao corpo exatamente aquilo de que ele precisa, a fim de florescer direito e permanecer vigoroso”, escreveAbdruschin emNa Luz da Verdade.

Cada povo e cada nação têm raízes que precisam ser fortalecidas, enobrecidas com base em suas características próprias. “Somente o soerguimento da própria cultura constitui verdadeiro progresso para cada povo!”, escreveainda Abdruschin.




Uma vez, o pai de uma amiga quegosta de mexer com a terra e plantar no seu sítio, fez uma viagem à Suíça. Lá deparou com um terreno bonito de plantio. No meio daquele pequeno terreno havia uma bandeira da Suíça. A imagem ficou gravada em sua memória e levou-­o à reflexão sobre a importância do solo que alimenta, que serve de moradia e de hospedagem. Como hóspedes que somos, diferentemente do olhar exigente dos donos, poderíamos incorporar o olhar agradecido dos convidados. Não só usar, mas também honrar cada coisa que faz parte do nosso chão, desde o idioma até a natureza que nutre nosso corpo e nossa alma.

Além das raízes que nos conectam com um local, com as pessoas que o coabitam e com uma cultura, há outras raízes mais profundas que fazem parte daquilo que somos e estão além do que enxergamos. Trata-­se da nossa essência. E essa essência espiritual precisa também de nutrição. Por isso, muitas vezes, a sensação de estar desenraizado não acontece apenas quando nos mudamos para um país estrangeiro, mas também quando deixamos de nutrir as raízes da nossa essência.
Na medida em que cada um cuida das próprias raízes, passa a nutrir a vontade de outras pessoas, de também cuidar das suas. Enriquecer e honrar o que há de bom é um caminho para se ter orgulho do solo que nos recebe, seja ele qual for.



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Sibélia Zanon

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