Sibélia Zanon
Nem tudo o que existe a gente vê e nem por isso as coisas deixam de existir!
Era uma vez… Ao escutar a expressão somos levados para um passeio pelas paisagens da memória. Não a memória que habita a mente. Mas uma memória mais profunda, memória gravada na pele, no coração... Era uma vez pode suscitar “ternura saudosa para uns, felicidade melancólica, ou também silenciosos desejos irrealizáveis”, escreve Abdruschin.
Quais memórias gostaríamos de resgatar para o presente?
No livro Nina e a música do mar – Sereias, a menina pergunta: “Vovó, já experimentei água salgada e já vi um peixe, mas… onde estão as sereias?” O questionamento faz lembrar que, num tempo muito distante, os povos antigos tinham intimidade com a natureza, e as sereias não eram reminiscências de outras eras, mas elemento presente nas relações de gratidão e respeito que um povo construía com as suas águas.
A escritora Roselis von Sass conta em seus livros que as sereias, também chamadas de Ai-aras, Ondinas, Iaras, Mãe d’Água, entre outros nomes nas mais diversas culturas, são conhecidas por suas melodias encantadoras. Muitas vezes, suas músicas são dirigidas aos peixes, como expressão de estímulo e alegria ou ainda como advertência. O encantamento que a água e seus seres causavam nos povos antigos fazia com que fosse celebrada regularmente a festa da água.
Os mares, rios e lagos têm música. A música das águas é também a música de seus inúmeros habitantes, visíveis e invisíveis. E se hoje fosse possível resgatar a intimidade com a riqueza da natureza, a gratidão pela abundância das águas e de seus habitantes, será que poderíamos voltar a escutar as diversas músicas das águas?
Era uma vez…
“No dia seguinte, Nina e Cabelinho acordaram bem cedo porque a primeira vez das coisas só acontece uma vez. Construíram obras de arte na areia. Sonharam com estrelas.”
“Velai eorai,diz a sentença que vos é dada mais uma vez no caminho. Ovelarrefere-se à vossa vida terrena, na qual deveis estar automaticamente preparados, a qualquer momento, para intuir nitidamente as impressões que se precipitam sobre vós, e também pesá-las cuidadosamente, assim como examinar antecipadamente, com cuidado, tudo o que sai de vós.”
"Solitária e sem compreender nada se encontra uma alma no recinto de morte. Sem compreender nada, porque o ser humano que jaz no leito se recusou, durante a sua vida terrena, a acreditar na continuação da vida após deixar o corpo de matéria grosseira, jamais pensando nisso com afinco, e zombando de quantos falavam a tal respeito."
A beleza verdadeira comove e convida ao voo. Ela pode ser capturada pelos sentidos e pela alma. Por isso não é acessório. É bálsamo e cura. Para além daquelas grandiosas, as pequenas belezas acendem uma luz no cotidiano. Podem ser vistas ou também sentidas num gesto, numa ação. Cada pessoa, assim como cada povo, tem sua expressão particular de beleza, atuando como doador e colaborador no engrandecimento do mundo.