Abrigo do sonhador

outubro 18, 2017

Imagem de passarinho num galho

 

Sibélia Zanon

 

Mais do que moradia, a palavra casa me lembra as asas de uma ave. Ao mesmo tempo que as asas promovem a liberdade do voo, elas protegem e abrigam os filhotes. A casa abrange uma riqueza de funções, desde as mais concretas, como a proteção de todo tipo de intempérie, até as mais sutis, como o acolhimento da singularidade e profundidade de seus moradores. Para o filósofo Gaston Bachelard “a casa é uma das maiores forças de integração para os pensamentos, as lembranças e os sonhos do homem”. Ela protege o sonhador, permitindo que ele se sinta em paz.

 

“A casa voltava ao ventre do silêncio e dava vontade de nascer.”
Mia Couto

 

Antigamente, os sacerdotes ensinavam que uma alma só poderia ouvir a voz do seu espírito na quietude, no silêncio. As casas eram espaços propícios para essa escuta, espaços que nutriam e acalentavam as intuições e inspirações. E elas podiam se transformar ainda em espaços de festa. Entre os povos germanos, comemorava-se, na época do Natal, a festa das doze noites sagradas ou festa da chegada do amor.

“Os seres humanos desse tempo de outrora diziam que no transcorrer das doze noites sagradas desciam ‘fitas do céu’, cada ano de novo, unindo entre si todas as criaturas visíveis bem como as invisíveis…

Essa festividade era celebrada de modo todo especial. Durante todo o seu desenrolar, uma contínua e intensa chama tinha de permanecer acesa diuturnamente na lareira, e diariamente, ao anoitecer, acendia-se uma fogueira ao lado da entrada da casa, que deveria arder até o Sol nascer. Esse fogo tinha um duplo sentido. Primeiramente, deveria iluminar o caminho que conduzia para a casa e, paralelamente, seria o sinal visível do amor e calor que unia os moradores dessa casa; com o mesmo amor também seriam recebidos os hóspedes”, escreve Roselis von Sass, em O Livro do Juízo Final.

Atualmente, cada casa pode ainda manter, mesmo que simbolicamente, uma chama acesa, chama de conexão com as boas inspirações. E, assim, fazer crescer as asas que combinem com a singularidade de seus moradores, propiciando espaço de interiorização e nutrição, provendo-os de força para cada nova jornada.



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“Nas escarpadas encostas, que se situavam como proteção, no lado do poente, eles queriam pernoitar. Ali armaram suas peles em forma de tendas, para se protegerem contra o vento da noite. Construíram um pequeno fogão de pedras, para fazerem fogo à noite.

Então seguiram o caminho até alcançarem o fim da alta planície. O céu irradiava uma indescritível claridade, o Sol declinava e o mar parecia chamejar. No chão branco da margem arenosa e calcária, com leve declive, e cujas beiras eram lavadas pelo mar, pairava um brilho áureo-cintilante...”


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