Sibélia Zanon
Diante de uma encruzilhada, que oferece várias direções, ficamos parados. Parados e pensativos: Qual caminho percorrer? O próximo passo nos levará a certas paisagens, experiências e também às consequências decorrentes do percurso escolhido.
A imagem da encruzilhada é comumente usada como metáfora para um ponto crítico na vida, um cruzamento de caminhos em que é preciso tomar uma decisão. É um encontro com o desconhecido, e esse senhor nos intimida. Mas uma encruzilhada pode também simbolizar esperança, uma nova possibilidade de escolher um caminho bom. “Que suas escolhas reflitam suas esperanças, não seus medos”, dizia o estadista Nelson Mandela.
Diante dos diferentes caminhos, muitos se questionam: O que nos impulsiona a enveredar por uma rota específica? Existe o livre-arbítrio? Qual a sua relevância, se consideradas variáveis como a genética, o destino, o carma e, ainda, os experimentos da neurociência? Pressionado adicionalmente pelo materialismo, pelas artimanhas de todo tipo demarketing e pelas avançadas tecnologias que pretendem determinar impulsos de compra e opiniões, o livre-arbítrio parece bem tolhido no tempo presente.
Podemos tomar como premissa que uma parte das questões que nos afetam no presente já tenha sido determinada por nossa livre vontade em épocas passadas e agora consiste em destino ou carma. Podemos assumir também que somos influenciáveis em muitos aspectos.
Mas, por baixo das camadas materiais, há algo que pulsa no âmago de cada ser humano. Um anseio que, por vezes, brota antes da consciência e pode ir, inclusive, contra sua própria racionalidade. Em situações inusitadas ou exigentes, podemos reagir de formas diferentes daquelas que imaginávamos e chegamos a ficar surpresos com nossa própria maneira de ser. Somos indivíduos.
Talvez só seja possível admitir a existência do livre-arbítrio ao constatar que o ser humano é algo mais do que matéria: “O livre-arbítrio, que sozinho atua tão incisivamente na verdadeira vida, de modo que se estende para longe no mundo do Além, que imprime seu cunho à alma, sendo capaz de moldá-la, é de espécie totalmente diferente. Muito maior para ser tão terrenal. Por isso não está em nenhuma ligação com o corpo terreno de matéria grosseira, portanto, nem com o cérebro. Encontra-se exclusivamente no próprio espírito, na alma do ser humano”, escreve Abdruschin em Na Luz da Verdade.
Atualmente, escutar o livre-arbítrio não é processo instantâneo e nem fácil. Um tanto sufocado por conta de uma longa história de cultivos materiais em detrimento de aprofundado trabalho interior, o arbítrio talvez não esteja tão livre quanto seria desejado. Mas isso não significa que absolutamente tudo seja predeterminado e que somos apenas previsíveis fazedores de coisas.
Questionar-se sobre o alcance do próprio livre-arbítrio é o começo para instigar a forma individual e particular de se expressar e de fazer escolhas. O que nos limita? Correntes criadas por nós mesmos e outras que nos amarram aos outros? Carência e necessidade de aprovação? Imersão demasiada em grupos e na família, causando quase uma dissolução do “eu”? A soberania que ofertamos a um prazer cotidiano até que ele cresça senhor de nós?
Exercer a livre decisão é resgatar uma parcela de liberdade e de responsabilidade para si, cultivando a autonomia. Para tanto é preciso religar as conexões com a voz que vem de dentro. Escutar a voz da alma e libertar o que oprime, oferecendo voo às asas. Cada um como ser único, singular, capaz de frutificar em cada nova encruzilhada que a vida puder ofertar.
“Viver é experimentar exatamente isso: cuidar de uma pequena parte, de modo a agregar ao todo. Qual a nossa colaboração na transformação da energia que nos mantém vivos? Qual o melhor encaixe que podemos fazer de nós mesmos dentro de um sistema que já trabalha, por natureza, de forma colaborativa?”
Sibélia Zanon