"Quase com medo, Li-Erl olhou bem para o alto e, contra a vontade, escapou-lhe uma exclamação de máximo encantamento. O rosto da estátua era de uma beleza excelsa. As feições harmônicas pareciam vivificadas por um sorriso que acentuava ainda mais a paz que emanava do deus.
Mergulhado em profunda devoção, Li-Erl ficou parado longo tempo a olhar para o semblante. Depois murmurou, dirigindo-se ao professor:
— Este, quem é?
Lie-Tse deu-lhe a entender que silenciasse. Em seguida os dois encaminharam-se para a saída. Após tão profunda impressão nenhum quis estampar outra imagem na retina. Próximo ao templo havia um pequeno bosque com plantas raras e árvores frondosas. Para lá o ancião conduziu o discípulo, e sentaram-se ambos num banco sobre a relva.
Muito tempo nenhum dos dois falou. Afinal, Li-Erl começou:
— Que deus era aquele que contemplamos? É a imagem do Sublime, de quem tanto me falas?
— Do Sublime ninguém pode fazer uma imagem, Li-Erl; pois nunca ninguém O viu, nunca ninguém O poderá ver. Essa estátua, porém, que tanto te impressionou, representa a personificação de algumas de suas virtudes. Vai repetidamente até lá e procura conhecer-lhe a significação. A imagem revelar-te-á a grandeza do Sublime, se souberes olhar direito."
Lao Tse, Coleção O Mundo do Graal