Quando a primavera e a Páscoa batem na porta de casa

abril 04, 2017

 

Sibélia Zanon

Muitas vezes somos tomados por um perfume que bate na porta de nossos sentidos. Faz um tempo, quando a primavera se anunciava, eu sentia um perfume ao amanhecer e ao anoitecer e não sabia de onde vinha. Durante os dias de busca, meu nariz decidia meus passos. Aquele era um cheiro que sabia contar histórias. Era como se ele me levasse para passear por uma alameda bonita, como se despertasse o que existia de bom dentro de mim, fazendo uma conexão com o que existia de bom fora de mim. E eu queria mais daquilo.

Descobri que o perfume vinha de uma planta da casa vizinha, e não se tratava de uma planta especialmente vistosa. Mas... por que precisaria ser vistosa? O seu cheiro diminuía a questão, nublava os olhos de beleza. Não sei seu nome até hoje, mas sei que, naqueles dias, a primavera batia na porta da minha casa.

Mas, por que estou falando da primavera se ela promete chegar só em setembro? Acontece que a Páscoa se anuncia e, entre ovos e coelhos, pensar na Páscoa despertou memórias da primavera.

No hemisfério norte, o início da primavera coincide com a Páscoa. Na língua alemã, a palavra Páscoa é Ostern, e em inglês é Easter, ambas palavras derivadas do nome Óstara. E Óstara é conhecida como a deusa da primavera, que uma vez por ano dá a volta pela Terra, transmitindo sua força para a germinação das sementes.

Hoje, dificilmente a Páscoa é associada a essa linda invasão da primavera, como escreve Roselis von Sass em O Livro do Juízo Final: “Certamente todo ano é celebrada a festa de Óstara, a Páscoa(Osterfest)! A época é a mesma, contudo a vinda da deusa da primavera, através da qual as sementes se tornam férteis, não é mais comemorada...”

No hemisfério sul não haveria mesmo por que exatamente fazer essa associação entre Páscoa e primavera, a não ser que repensássemos o calendário.

Sendo o resultado de costumes e crenças diversas, a comemoração da Páscoa pode trazer lembranças diferentes a cada um.

Pelos cristãos, por exemplo, é presente a lembrança da ressurreição de Cristo, que foi visto pela primeira vez por Maria Madalena, segundo o livro Os Apóstolos de Jesus: “Ela viu nitidamente que esse era o Senhor. Mas também sabia que não era o corpo terreno de Jesus que estivera diante dela, pois somente podia vê-lo com aqueles olhos com os quais percebia as imagens luminosas das alturas.”

Maria Madalena foi avisada a este respeito:

“‘Não tenhas medo!’, disse uma das figuras, ‘e escuta o que nós te dizemos: Jesus, o Filho de Deus, a quem estás servindo, ressuscitou com a sua parte divina, que estava dentro dele. Ele ainda ficará convosco durante quarenta dias, caminhando entre vós.’”

A seriedade do acontecimento e de tudo o que envolveu aquele momento vai além das nossas possibilidades de refletir. Talvez possam reverberar melhor na nossa maneira de sentir.

Na verdade, vale dizer que lembranças sobre a beleza da primavera, assim como reflexões sobre os diversos aspectos que envolveram a missão de Jesus não têm dia marcado no calendário. A primavera interior de cada um não tem estação certa para acontecer.



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Ainda me lembro com nitidez daquela cena: ela caminhava apressada com uma folha nas mãos, lendo o conteúdo, enquanto lágrimas se avolumavam em seu rosto. Entrou quase em fuga no vestiário. Eu, que passava pelo corredor nesse exato momento, tive o impulso de segui-la, sentindo que deveria ajudar.

Trabalhávamos em setores distintos, embora próximos, e nossos contatos até então se resumiam a poucas conversas triviais. E eis que, de súbito, me vejo diante dela, agora sentada em um sofá entre os armários do vestiário, com um diagnóstico em mãos: “câncer”. 

O turbilhão em que ela se viu a partir desse dia acabou envolvendo várias pessoas. Entre torrentes de lágrimas, apreensões compartilhadas, histórias inspiradoras contadas, palavras de apoio e carinho, abraços e orações, foi se formando uma comunidade em torno dela, cada um se esforçando para auxiliar como podia. Os laços foram se fortalecendo, pessoas antes dispersas passaram a se integrar e colaborar, sensibilizadas pelo que ocorria.

A partir daquele forte abalo, em que a terra pareceu tremer e escapar de baixo dos pés, muita coisa pôde vir à luz. Nossas conversas cotidianas se tornaram mais profundas e significativas, tocando em temas como a percepção da fragilidade da própria vida, os medos ligados ao que aconteceria consigo e com a família, reflexões sobre o que significou sua jornada até ali, perguntas sobre o real significado da existência, a busca por compreender os porquês, nos campos físico, emocional, espiritual...
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