“Gosto de dirigir em dias de chuva”,
disse uma vez um amigo, ao contar que não tem tempo de parar para ficar olhando
a chuva e, por isso, aproveita para admirá-la quando precisa dirigir nos dias
chuvosos.
O ponto de vista curioso e original
dele me fez pensar na minha relação com a chuva. Lembrei-me de uma tarde de
verão, em que meu marido e eu fomos surpreendidos por um temporal no quintal de
casa e corremos para o terraço. Ficamos ali abrigados, olhando o espetáculo da
chuva como quem assiste a uma peça teatral.
Sentindo o vento forte, ele comentou
que os pássaros respeitam a chuva e foi aí que fomos acometidos por uma porção
de curiosidades de criança: “Qual seria o ponto de vista do pássaro sobre a
chuva? Onde os pássaros se escondem? Eles têm suas casas protegidas nas
árvores, mas há árvores que balançam tanto com a chuva...” A natureza pinica
perguntas na nossa cabeça, assim como as gotas fortes de chuva fazem na nossa
pele.
Os pássaros respeitam o vento e a
chuva. Se o temporal vai ser forte, eles percebem antes de qualquer humano e
partem para um local seguro.
Eles respeitam a natureza, entendendo
que há coisas mais fortes do que suas asas. E nós? Sabemos nos curvar à chuva?
À natureza? Ao que a vida nos traz ou nos propõe? Ou insistimos em voar,
estabanados, correndo riscos, asas molhadas e empurradas pelo vento? Destemidos
ou desrespeitosos?
Naquela tarde, quando a chuva decidiu
ficar mansa, o mundo ao redor foi mudando. A voz do trovão se calou e os
pássaros recuperaram a melodia, como se uma felicidade esquecida desabrochasse.
Uma alegria pelo poder das asas, que ganhavam leveza de novo, uma alegria pelo
frescor das plantas que abrigavam água de beber. As bromélias eram um cálice e
as poças d’água uma banheira.
Talvez a vida pudesse ter mais desse
frescor se aprendêssemos com os pássaros o respeito pela chuva e por tantas
outras forças da natureza. Eles continuam com o poder do voo porque sabem
aguardar a hora de voar, sabem recuar, sabem dialogar com outras forças. E nós?
Como estamos dialogando com a chuva?
"—Li-Erl, filho dos jardins sagrados, grande foi a graça que Deus me proporcionou, permitindo-me ver-te. Puro como Ele te enviou, assim te conservaste. Guiado pela Pureza terás de caminhar por entre os homens, reavivando a Luz que se extingue, trazendo a Verdade àqueles que se asfixiam nos pecados.”
"— Maon, o sábio, já se encontra em tua casa, Alaparos. Ele unirá Maris Iamin e Scham-Haran na Terra com as flores da pureza." Roselis von Sass, A Desconhecida Babilônia
Em tempos de uniformização, produtividade e eficiência como valores máximos, a singularidade de cada chama pode assustar. Por vezes, tentamos mascarar nosso jeito, nosso brilho ou nossa sombra para que exista aceitação. Mas será que é isso o que a vida pede?