“Alaparos ainda recolheu algumas flores que haviam caído no chão, cheirando-as.
— O aroma das flores purifica os órgãos de respiração e dissolve as névoas do cérebro.”
Roselis von Sass, A Desconhecida Babilônia
Há vezes em que nos sentimos vazios, mesmo estando repletos. Tenho pensado nisso depois de descobrir que a falta de ar não significa exatamente a dificuldade em preencher o peito. Mas, em primeiro lugar, a dificuldade em esvaziá-lo.
O ar preso, retido do lado de dentro, já não tem a qualidade do frescor, não consegue mais prestar seu serviço de renovação. A pessoa que tem o ar confinado não consegue também participar do ciclo completo da respiração: sorver o ar, transformá-lo e devolvê-lo.
A devolução pode ser percebida como uma forma de doação. O dióxido de carbono da nossa expiração é absorvido pelas plantas, beneficiando-as e convocando-as a purificar o início de um novo ciclo.
Para sentir-se pleno de ar é preciso saber-se vazio.
Essa imagem me pareceu emblemática para tantas outras situações. A ausência de frescor em muitas circunstâncias da vida pode denunciar a falta de fluxo, de movimento, de troca com o mundo exterior. A falta de ir e vir.
A dificuldade em sentir gratidão, por exemplo, pode denotar a incapacidade de perceber os presentes que se recebe. Sem notar que o interior está repleto, guardamos tudo dentro e não conseguimos transbordar benefícios para o universo. Ficamos cheios e infelizes.
Também as ideias ou conceitos que se fazem pedra no nosso interior, sem que consigamos pensar sob outros ângulos ou ter alguma flexibilidade na forma de olhar, podem refletir a incapacidade de circulação de pontos de vista que tragam novos discernimentos. Sempre as mesmas ideias fixas enrijecendo a forma de julgar.
Quando nos sentimos vazios, pode ser que esteja acontecendo exatamente o contrário. Será que podemos aprender a expirar, a nos esvaziar daquilo que não mais nos serve para ganhar novo fôlego, espaço, ar?
“É facílimo reconhecer uma pessoa amadurecida ou esclarecida, pois está na Luz e evita toda escuridão. Também por seu modo de ser ela estabelecerá a paz em redor de si.
Aí não haverá mais nenhuma manifestação raivosa, apenas serena objetividade no grande impulso da atuação alegre...”
Abdruschin, Na Luz da Verdade - Mensagem do Graal
"— Agora podeis ver apenas um copo. Aliás, o mais externo. Suponhamos que esse copo fosse o corpo terreno. Se esse corpo terreno morrer, então aparece o copo do meio, a alma. E se eu tirar agora também o copo do meio – pois a alma morre igualmente, quando o tempo para isso tiver chegado – então o espírito está livre novamente. Sem os invólucros constituídos pela alma e o corpo terreno, ele não tem mais nenhuma ligação com os mundos perecíveis da matéria.”