“Alaparos ainda recolheu algumas flores que haviam caído no chão, cheirando-as.
— O aroma das flores purifica os órgãos de respiração e dissolve as névoas do cérebro.”
Roselis von Sass, A Desconhecida Babilônia
Há vezes em que nos sentimos vazios, mesmo estando repletos. Tenho pensado nisso depois de descobrir que a falta de ar não significa exatamente a dificuldade em preencher o peito. Mas, em primeiro lugar, a dificuldade em esvaziá-lo.
O ar preso, retido do lado de dentro, já não tem a qualidade do frescor, não consegue mais prestar seu serviço de renovação. A pessoa que tem o ar confinado não consegue também participar do ciclo completo da respiração: sorver o ar, transformá-lo e devolvê-lo.
A devolução pode ser percebida como uma forma de doação. O dióxido de carbono da nossa expiração é absorvido pelas plantas, beneficiando-as e convocando-as a purificar o início de um novo ciclo.
Para sentir-se pleno de ar é preciso saber-se vazio.
Essa imagem me pareceu emblemática para tantas outras situações. A ausência de frescor em muitas circunstâncias da vida pode denunciar a falta de fluxo, de movimento, de troca com o mundo exterior. A falta de ir e vir.
A dificuldade em sentir gratidão, por exemplo, pode denotar a incapacidade de perceber os presentes que se recebe. Sem notar que o interior está repleto, guardamos tudo dentro e não conseguimos transbordar benefícios para o universo. Ficamos cheios e infelizes.
Também as ideias ou conceitos que se fazem pedra no nosso interior, sem que consigamos pensar sob outros ângulos ou ter alguma flexibilidade na forma de olhar, podem refletir a incapacidade de circulação de pontos de vista que tragam novos discernimentos. Sempre as mesmas ideias fixas enrijecendo a forma de julgar.
Quando nos sentimos vazios, pode ser que esteja acontecendo exatamente o contrário. Será que podemos aprender a expirar, a nos esvaziar daquilo que não mais nos serve para ganhar novo fôlego, espaço, ar?
“COMO A MONTANHA PODE SER TÃO GIGANTE?
GI-GAN-TE?
NINA GOSTA DE PASSEAR NOS OMBROS DO PAI.
COMO SERIA SUBIR EM OMBROS FORTES ATÉ LÁ EM CIMA?
MAIS ALTO… CADA VEZ MAIS…"
“A criança relatou o acontecimento que acabara de vivenciar. Ardente foi a indignação que ela expressou por palavras. Ardentes, como fagulhas, caíram cada uma dessas palavras no coração da mãe e inflamaram ali sentimentos intuitivos que há muito dormitavam latentes: pureza! dignidade de mulher! justiça!”
Cassandra, Coleção o Mundo do Graal
“Entoavam canções nas quais vibravam alegria e agradecimento, mas também uma certa tristeza. Tristeza por serem obrigados a abandonar seus queridos animais, que eram livres, e, mesmo assim, tinham vivido ali junto deles. Desde quando a lembrança alcançava, os animais foram sempre seus companheiros.’”
Roselis von Sass, A Verdade sobre os Incas