O Homem e a colcha de retalhos

agosto 22, 2019

O Homem e a Colcha de Retalhos

 

Mesmo que nem sempre tão combinados, os retalhos cheios de histórias e lembranças acabam formando um conjunto harmônico na colcha de retalhos. Como uma rede de pedaços perdidos no tempo, a colcha acaba unida por pontos comuns que tornam aquela unidade forte e significativa. Talvez o encanto de uma tal colcha, ligada quem sabe à figura de uma avó de outros tempos, esteja nas tantas possíveis associações da colcha com a vida. A vida que vai sendo construída aos poucos, com a união dos tantos pedaços ou fases ou experiências. A vida que vai ficando mais rica, quanto maior for a diversidade de texturas e fazendas. A vida que mostra o próprio ser humano como uma colcha cheia de histórias, de nuances, cores, desenhos e combinações surpreendentes.

 

Pelo caminho vamos construindo ou alimentando uma porção de outras colchas ou tecidos visíveis e invisíveis da vida. Uma ação gentil reforça, pela sua espécie, ações semelhantes, formando um tipo de rede forte e entrelaçada de ações afins, que podem influenciar positivamente. Já um pensamento cheio de ódio faz o tecido dos pensamentos agressivos e negativos ganhar poder.

 

A sensação de que o clima está pesado, ou de que o mundo oprime, mostra parte dessa rede invisível que nos cerca. Sem reconhecer, muitas vezes, temos parcela de contribuição para uma porção de sensações, ações e sentimentos que “pairam no ar”.  Para que a colcha de retalhos dos bons pensamentos fique maior é preciso investir neles, nutri-los, praticá-los. Assim também com as intenções, ações e desejos de todas as espécies que emitimos.

 

Talvez a grande arte na vida seja saber com que retalhos desejamos contribuir para as colchas invisíveis e visíveis que nos cercam. Além de benefícios e malefícios que podemos propiciar ao mundo com a nossa sintonia, podemos deixar uma marca particular nos ambientes que frequentamos, porque uma boa parte da impressão e imagem que passamos está ligada ao nosso “astral” ou na direção de nossos desejos e pensamentos.

 

E assim podemos começar o dia decidindo xingar ou matar em pensamentos alguém que nos tirou do sério ou analisando as situações com o máximo de coerência e bom senso possível. Podemos alimentar a tecedura da vida com compreensão ou com egoísmo. Apenas detalhes. Detalhes? Não, poder!

 

O poder de mudança começa assim pequeno, como um retalho sem importância, e com a contribuição de todos torna-se grande como um tecido que abrange um mundo. E tudo pode começar no universo mudo dos desejos, pensamentos e intenções. A força dos pensamentos é conhecida de muitos. Mas o poder de cada “retalho-pensamento” talvez ainda seja subestimado.

 

Partindo do princípio de que o mundo é cheio de movimento e de que cada ação gera uma reação – coisas da Física – é possível imaginar que o que cada um emite ou forma gerará uma reação; e que esses tecidos formados, sendo mais fortes ou mais fracos, acabarão por voltar ou influenciar, de alguma forma, os próprios geradores. Também influenciarão o mundo, fazendo-o mais leve ou mais pesado, mais pacífico ou mais violento, mais doce ou mais amargo.

 

É no cotidiano que a colcha de retalhos vai sendo costurada. Resultado de pedacinhos soltos aqui e ali, mas repleta de magia e poder. Somos mais fortes e poderosos do que pensamos. Em cada ação, pensamento ou desejo podemos somar ou subtrair, engrandecer o mundo ou fazê-lo mais mesquinho, trazer benefícios para a nossa própria vida ou torná-la mais amarga. Cada um pode, a cada dia, contribuir da forma que quiser. E esse é o poder, o senhor dos poderes que todos, sem exceção, têm a seu dispor.

 

“...todo e qualquer pensamento e querer mau corre como sombra através do tecer, turvando com maior ou menor intensidade as áreas claras e destruindo aqui e acolá a beleza, ao passo que todo puro e bom pensamento ou querer atravessa iluminando os fios, espalhando beleza e brilho ao longo dos caminhos percorridos.”  Na Luz da Verdade, de Abdruschin, vol. 3, dissertação “Fios de Luz sobre vós!”

 

Texto revisado, publicado no periódico Literatura do Graal, número 11.



Leia Também

Quando a mentira veio ao Mundo?

novembro 05, 2024


O Livro do Juízo Final, de Roselis von Sass
Leia Mais
A grandeza da simplicidade

novembro 02, 2024


O ser humano tem de aprender finalmente que a verdadeira grandeza só se encontra nos acontecimentos mais simples e naturais. Que a grandeza condiciona essa simplicidade.

Assim é na Criação, assim é nele próprio, que a ela pertence como uma parte!”

Abdruschin, Na Luz da Verdade - Mensagem do Graal
Leia Mais
A arte de reconstruir

outubro 30, 2024


Os diversos tipos de dor, perda ou luto exigem alguma medida de reformulação. Quando se perde alguém querido, quando se perde uma habilidade, quando se perde algo que parecia fornecer esteio ou segurança… algo novo deseja ser delineado.

Nem sempre precisamos viver a perda para perceber a necessidade de alguma reconstrução. Não é preciso esperar pelos problemas graves para começar uma mudança. Perceber outras xícaras ruindo pelo mundo e covivenciar aquela dor pode ser um jeito de aprender e revisar o cuidado antes que um objeto escorra das próprias mãos.
 
Leia Mais