Daniela Schmitz Wortmeyer
Cem
toneladas de quartzito, na forma de uma grande placa de pedra, equilibradas há
milhões de anos sobre uma base de pouco mais de um metro de diâmetro. “Chapéu
de Sol” foi o apelido que lhe deram, em alusão ao seu curioso formato. Esse
monumento natural encontra-se na cidade de Cristalina, Estado de Goiás, cercado
de inscrições rupestres, lendas e mistérios.
Quando
li em uma página na Internet que alguns creem que essa pedra é responsável pelo
equilíbrio do mundo, achei curioso e até engraçado, imaginando se tratar de
alguma crença fantasiosa. Mas, ao visitar o Chapéu de Sol pessoalmente, comecei
a ficar preocupada.
Perto
de mim, um senhor dizia a outro que, da primeira vez que visitou a pedra, a
base que a sustenta estava diferente. Ele contava que, com o passar dos anos, percebe
que a base está se desfazendo, até chegar o momento em que não aguentará
mais...
Imediatamente
olhei com mais atenção para a pequena pedra sob o gigantesco Chapéu. Tive de
concordar, em silêncio, com o homem desconhecido. Após sabe-se lá quantos
milhões de anos, observam-se sinais de desgaste. Além disso, quase não se
consegue mais identificar as marcas rupestres, feitas por seres humanos que
passaram por lá, estima-se, há três milhões de anos. Inúmeras pichações,
rabiscos, nomes próprios dos evoluídos homo
sapiens sapiens contemporâneos sobrepõem-se a esses registros imemoriais, sobrecarregando
o ambiente que circunda o monumento. Nem a placa explicativa em frente à pedra
escapou da depredação...
Contemplando
esse quadro e pensando no significado simbólico do lugar onde estava, comecei a
refletir: até quando o Chapéu de Sol vai aguentar? Quanto falta para esse mundo
perder seu ponto de equilíbrio?
O solo
da região de Cristalina, como em outros locais do Planalto Central, é repleto
de cristais de rocha, que em épocas passadas foram profusamente extraídos e
comercializados. Hoje a exploração é mais limitada, tanto por questões
econômicas, quanto pela crescente criação de reservas ambientais. Caminhando em
meio à vegetação do cerrado, não é incomum encontrar pequenos cristais
aflorando na superfície da terra. Particularmente, há tempos tenho uma atração
especial pelas pedras, porém, mais recentemente, passei a me tornar mais
consciente de seu significado.
Ao olhar
os variados tipos de pedras preciosas e semipreciosas expostos no comércio,
quantos de nós temos consciência de estar diante de elementos que demoraram
milhões de anos para se formar na crosta terrestre?“As criaturas humanas enxergam somente os efeitos finais dos fenômenos
naturais que geralmente passam após curto tempo. Dos longos trabalhos
subterrâneos que precedem cada fenômeno, nada sabem”, observa a escritora
Roselis von Sass, no livro Os Primeiros Seres Humanos.
Sobre
esses fenômenos desconhecidos para tantas pessoas, Judy Hall explica, no livro
A Bíblia dos Cristais:
“Os cristais são o DNA da Terra, um
registro químico da evolução. São repositórios em miniatura que contêm os
registros do desenvolvimento da Terra ao longo de milhões de anos, e guardam a
indelével lembrança das forças poderosas que os moldaram. Alguns foram
submetidos a enormes pressões, enquanto outros se desenvolveram em câmaras nas
profundezas do subsolo; alguns se formaram em camadas, enquanto outros
cristalizaram a partir do gotejamento de soluções aquosas – tudo isso afeta
suas propriedades e as maneiras como atuam. Seja qual for a forma que assumam,
a sua estrutura cristalina pode absorver, conservar e emitir energia,
especialmente na faixa de onda eletromagnética.”
O
fascínio pelos cristais aumenta à medida que nos aprofundamos no conhecimento
sobre eles. Cada espécie de cristal possui uma estrutura atômica única,
geométrica e regular. É segundo essa ordem interna que os cristais são
classificados, embora exteriormente possam apresentar formas e cores muitos
diferentes, como esclarece novamente Judy Hall:
“Embora muitos cristais possam se formar
a partir do mesmo mineral ou combinação de minerais, cada um deles se
cristalizará de uma maneira. O cristal tem um crescimento simétrico em torno de
um eixo. Os seus planos externos regulares são uma expressão exterior de sua
ordem interna. Cada par de faces do cristal apresenta exatamente os mesmos
ângulos. A estrutura interna de qualquer formação cristalina é constante e
imutável.”
Como
pode ser que a formação e constante transformação da Terra ocorram segundo
regularidades tão perfeitas? Não é à toa que, desde tempos remotos, seres
humanos têm se debruçado sobre essas leis, buscando compreender as correlações
existentes entre todos os elementos naturais. Roselis von Sass expressa
sabiamente que:
“Todo o Universo soa e vibra! A força
criadora da vida impele e impulsiona, sem parar, em direção a novas formações e
ao crescimento! Poderoso e perfeito, além de qualquer imaginação humana, é o
ritmo segundo o qual os astros, desde o início, se formam, se movimentam,
crescem, se renovam e perecem no Universo...”
Sob os
nossos pés que caminham distraídos nesse solo, há literalmente um mundo em
movimento, um constante plasmar de irradiações vivas, que gradualmente se
solidificam. Ou seja, o que parece estático, em realidade não o é, nas palavras
de Judy Hall:
“No cerne do cristal estão o átomo e os
seus componentes. O átomo é dinâmico e consiste de partículas em rotação em
torno de um centro em constante movimento. Portanto, embora externamente o
cristal possa parecer estático, ele na verdade é uma massa molecular
fervilhante, vibrando numa determinada frequência. É isso o que dá ao cristal a
sua energia.”
Recolhi
uma ponta de quartzo transparente do chão, dentre as diversas depositadas nas
trilhas que conduzem ao Chapéu de Sol, e sentei em uma pedra diante dele. Segurando
firme na mão esquerda aquele pequeno mensageiro do tempo, pensei na antiguidade
do solo da região, nas poderosas forças que continuam trabalhando
incansavelmente para compor tal magnífico cenário. Era como se um saber
ancestral me circundasse, despertando um sentimento de reverência.
Outros
visitantes ali perto faziam alarido: uma mulher ouvia som alto dentro do carro,
um homem brincava que ia derrubar o Chapéu de Sol, empurrando-o, em seguida
acendia um cigarro. Um menino perguntava ao avô quando passariam em uma loja
para comprar um brinquedo. O avô – o homem que antes observara o desgaste da
base do gigantesco monumento – caminhava em silêncio sob o sol luminoso do
cerrado, catando pequenos cristais de quartzo. Diante da sua serenidade, o
menino também conseguiu achar pedrinhas bonitas.
E o
ponto de equilíbrio do mundo?
Lembrei-me
de um lapidador com quem conversamos na cidade, que falava compulsivamente de
quanto dinheiro já havia ganhado vendendo cristais, e de como a situação estava
difícil hoje. Dizia que ia vender a loja e trabalhar comprando pedras preciosas
para os chineses. Classificava os cristais segundo seu valor financeiro,
pegando um belo pingente de quartzo fumê e dizendo: “Esse pra mim não vale
nada!”
Em
outra loja, uma cliente olhava para uma esfera de cristal e dizia: “Ô, pedrinha
cara!”
Onde
está o ponto de equilíbrio do mundo?
As
pedras vibram em “fervilhante” frequência, enviando mensagens que o ser humano atual
esqueceu como decifrar. O que parece estático está em movimento, interagindo, influenciando,
comunicando. A natureza forma, transforma e decompõe, para novamente formar, ao
ritmo das leis imutáveis, como fazia há milhões de anos. Mas em que medida o
“senhor da Criação”, o espírito humano, é capaz de colaborar com esse
equilíbrio?
“Tudo mostra movimento, nada é sem forma.
Assim, parece como uma gigantesca oficina em redor do ser humano, em parte
afluindo para ele e em parte desviando-se dele, entrelaçando-se aí, amarrando e
desligando, construindo e demolindo, em mudança permanente, em crescimento
contínuo, florescimento, maturação e decomposição, a fim de dar, nisso, ensejo
às novas sementes para o desenvolvimento, em atendimento ao nascer e morrer de
todas as formas na matéria, condicionado pelo ciclo regular da Criação.
Condicionado através da lei do movimento constante, sob a pressão da irradiação
de Deus, do único vivo.”