Passo a passo para quebrar o gelo

abril 14, 2016

Sibélia Zanon



Fala-se, de forma saudosa, sobre as casas de outros tempos, os bairros de outros tempos, a vizinhança deoutros tempos. 


Diz-se que naqueles tempos aspessoas se conheciam, os vizinhos se viam, cumprimentavam-se e se relacionavam de uma forma ou de outra. A famosa xícara de açúcar servia para quebrar o gelo.

Hoje parece que o
 gelo está em sua melhor forma sólida, ignorando o aquecimento global.

Estamos contaminados por uma dose de indiferença, outra de defesa e um bocado de pressa.

Pela manhã, ao sair do elevador e manobrar o carro na garagem do edifício, vejo uma pessoa manobrando seu carro na minha frente e paro meu carro, aguardando que ela possa sair. Ela não me vê ou se esforça para não me ver. Na saída da garagem, nossos carros ficam emparelhados. Penso em abrir o vidro do meu carropara dar bom dia no mesmo instante em que ela fecha
o vidro do carro dela e olha, com seus óculos escuros, exclusivamente para frente.

A cena me interessou. Não por eu não estarcontaminada pelo gelo antártico, mas porque às vezes tento quebrá-lo, pensando no excesso de anonimato.

Mas a cena me interessou mais do que tudo pelo contraste que eu viveria logo em seguida. Saindo do meu apartamento, entrei naquele dia num outro prédio residencial. Quando andava, em direção ao elevador, no corredor comprido, me chamou atenção uma senhora que caminhavana minha direção.

Ela estava arrumando a bolsa, andava de cabeça baixa olhando para alguns papéis ou documentos que dobrava e guardava com cuidado.

Quando estava chegando perto de mim, e eu crente de que seríamos mais duas anônimas no mundo, ela levantou os olhos da bolsa, olhou bem para mim, sorriu, e disse: “Bom dia!”.

Foi estranhamente terno aquele gesto. Fiquei pensando sobre como as coisas simples nos salvam da desumanidade.

Por aquele dia, aquela desconhecida me tirou do anonimato, quebrou o iceberg do senso comum, deu-me uma xícara de açúcar... e nem ficou sabendo.




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