Entrei outro dia no mar e fiquei sentindo o que ele fazia comigo. Para permanecer no local aproximado em que entrei, numa linha reta em que podia ver a casa amarela, eu precisava me movimentar. Ficar parada significava ir para onde a vontade do mar me levasse. Se eu quisesse ir para qualquer direção, que não aquela intencionada pelo mar, o movimento exigido era vigoroso. Escolher a própria direção é tarefa de empenho.
Fiquei pensando sobre o que significa parar. Ficar parada não significa que as coisas efetivamente parem. A vida é repleta de correntezas. As águas de fora continuam empurrando as águas de dentro. Parar é ser carregada por alguma correnteza, é deixar o mar escolher a minha direção. Parar é deixar músculos e ideias em vazante.
Diferentemente, o movimento é um ato de conexão e esperança. Conexão das águas de dentro com as águas de fora. É fazer-se circulação. Ser parte de um grande circular. Movimentar-se e esperançar. Encontrar sentido e direção.
Dizem que a esperança não é a certeza de que as coisas vão dar certo, mas de que elas têm um sentido.
Sinto as ondas com o corpo. Aceito o desequilíbrio que elas, às vezes, me causam. Busco novamente o eixo para escolher a minha direção.
Olho com afeto a casinha amarela que me abriga desde as férias de infância. Tantos movimentos já ocorreram nas nossas paredes e corpos.
Pessoas foram, outras chegaram.
As marés nunca desistiram de nos surpreender com seus altos e baixos.
“Automóveis, aviões e foguetes queimam combustível para manterem-se em movimento; pássaros têm de vibrar suas asas para permanecerem no ar, e peixes as suas barbatanas para não afundar. Todo corpo precisa de um aprovisionamento contínuo de forças, que despende para conservar-se em movimento. E tem de prosseguir movimentando-se continuamente, se não quiser descer do lugar em que se encontra.” —Roberto C. P. Junior, Jesus Ensina as Leis da Criação.