Sibélia Zanon
“Ou se tem chuva e não se tem sol,
ou se tem
sol e não se tem chuva.
Ou se calça a luva e não se põe o anel, ou se põe o anel
e não se calça a luva! Quem sobe nos ares não fica no chão, quem fica no chão
não sobe nos ares.
É uma grande pena que não se possa estar ao mesmo tempo nos
dois lugares!”
Listas que morrem com o ano velho, listas que nascem no ano novo. Em
todo início de ano eu gostava de fazer a lista das coisas que gostaria de realizar
no ano que começava. Nunca comi lentilhas ou pulei ondas, mas sempre gostei das
listas. Elas me ajudavam a organizar as expectativas, os sentimentos, os
propósitos.
Eram também
uma forma de
fazer um balanço do ano,
pois na medida
em
que eu rascunhava
escolhas para o futuro, analisava como estava o caminhar no
presente e no passado.
As listas ensinam sobre as escolhas. É preciso escolher coisas para
colocar na lista, é preciso abdicar de outras. É preciso vivenciar a lista ao
longo do ano para entender sobre expectativa versus realidade.
Somos, aparentemente, bem intencionados a cada começo e a cada fim. Mas
o que acontece no meio? Além da nobreza ou não dos objetivos listados, a forma
de chegar a eles tem sido boa? Temos feito paradas estratégicas, ao longo do
ano, da semana, do dia, para avaliar os caminhos percorridos?
Refletir sobre as escolhas feitas ao longo de um determinado período é
uma forma de repensar o caminhar. E avaliar o caminhar permite que tomemos
novas decisões, que façamos escolhas mais conscientes para os próximos passos:
o caminho é pedregoso e precisamos trocar os sapatos? É possível seguir outra
direção e chegar a um novo lugar?
Quando não há paradas pelo trajeto, a fim de repensar os passos,
corremos o risco de seguir em frente sem olhar para o chão e tropeçamos, assim,
numa pedra qualquer. Ou, ainda, arriscamos seguir em frente sem olhar o céu e,
distraidamente, perdemos a referência dos pontos cardeais.
Passei
os últimos anos sem fazer listas. Ainda não sei bem por quê. Talvez algumas
ilusões tenham falecido. Talvez as coisas sejam mais complexas e não adianta
fazer uma lista tão organizada quando a vida é tão mutante. De qualquer
maneira, com ou sem listas, é preciso entender que não se pode calçar a luva e
colocar o anel ao mesmo tempo. É preciso fazer escolhas, refletir sobre elas e
ter, assim, a chance de se reorientar e escolher de novo. Com menos ilusões,
com mais confiança.